segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Gone Girl

Antes de começar a leitura deste texto, responda uma pergunta: Já assistiu Gone Girl (Garota Exemplar)? Não? Então não continua lendo, assiste primeiro que esse filme merece atenção! 
Mega spoilers à frente!


Li de tudo sobre esse filme e confesso que demorei a assistir porque odeio o Ben Affleck (que acabou sendo uma bela surpresa de atuação). Depois de ler um debate sobre o filme ser feminista ou machista e a Mari do Lugar de Mulher escrever sobre ele, então me convenci de que precisava assistir esse drama de 2h30. Amei e acho que pela primeira vez discordei da Mari.

Esse é um filme sobre vingança, mais especificamente, sobre uma mulher se vingando do marido. Isso podia dar muito errado, a personagem podia ser apenas uma louca, ou então uma vítima coitadinha. Mas Amy é muito mais. Ela é muito inteligente, cuidadosa, fria. Vibrei com cada detalhe bem pensado do seu plano para se vingar do cara que “matou ela”.

Amy era como muitas mulheres, estava se sentindo presa em um casamento infeliz. Seu marido tinha um caso com uma aluna muito mais nova que ele e ela foi se sentindo cada vez pior, mais sufocada, menos ela mesma. 


O espectador vai recebendo as informações aos poucos. No começo do filme, nós temos dois pontos de narrativa: Nick (Ben Affleck) percebendo que sua mulher desapareceu e agindo como alguém que não sabe o que aconteceu, mas com um jeito bastante suspeito de homem que quis se livrar da bitch com quem era casado; a segunda narração é o diário de Amy, onde ela se mostra uma mulher com medo, agredida pelo marido, alguém que sentiu a necessidade de comprar uma arma para se proteger, que termina o diário dizendo que o marido pode matá-la a qualquer momento.

O filme segue com uma revelação linda: o desaparecimento de Amy foi todo planejado por ela, com tanto cuidado e inteligência que a gente fica de boca aberta diante de personagem feminina tão poderosa, tipo uma Malévola da vida real. Aí chega um dos momentos que mais amei: Amy explica o quanto Nick fez mal para ela. Incrivelmente, uma mulher precisa ainda explicar o motivo de querer se livrar de um casamento infeliz, precisa esclarecer como as pequenas coisas de uma relação machista de dominação podem passar despercebidas. A narração da personagem (que, aliás, tem uma voz linda e hipnotizante) acompanha suas primeiras horas de fuga, onde ela pinta e corta o cabelo, muda suas roupas, aluga uma casa, compra comida e come muito chocolate. Amy se libertou de ser a mulher que Nick queria, mulher que não era ela, que era infeliz. A sua vingança foi planejada para que Nick fosse preso e condenado à morte por assassinato. Para ela não era suficiente apenas se divorciar, sair de casa, até porque isso não é tão fácil, isso é impossível para muitas mulheres. Amy foi má, foi fria, foi inteligente e libertou muitas mulheres com ela.



Até que o filme tem outra reviravolta: Amy é assaltada e perde todo o dinheiro que tem, forçando uma adaptação de planos. Ela recorre a um ex-namorado que ainda era apaixonado por ela, revela algumas coisas para ele se colocando de vítima, não deixando transparecer toda a sua força. Amy usa este personagem, que é a mesma mistura de inocente-dominador como Nick, para forjar mais um evento: ela teria sido raptada por ele e mantida em cativeiro, conseguindo se libertar e matá-lo em legítima defesa. Volta ensanguentada para casa, deixando o país e a mídia morrendo de pena dessa pobre mulher frágil e violentada. 

Amy decide voltar para Nick. Essa é uma decisão dela, não é mais a mulher obrigada a ficar casada. Ao voltar para casa, ela inverte os papéis colocando Nick na posição de medo. Afinal, ele sabia de tudo, sabia que ela havia armado seu desaparecimento e assassinado o ex-namorado. Nick está consciente de toda a força e manipulação de sua mulher e fica de mãos atadas. Agora é ele que tranca a porta para dormir de noite, é ele que quer se divorciar e não sabe como. Mais que isso, está num casamento que parece perfeito para a maioria das pessoas, do qual ele não pode se livrar sem ser condenado por isso.

Muitas pessoas consideraram esta última parte uma decadência da personagem Amy, como se ela voltasse a representar um papel clássico feminino de manipuladora, controladora através de questões como sexo e gravidez. Mas, na verdade, não acho que importa muito como ela tenha “aprisionado” Nick no casamento, e sim a própria inversão de papéis. Não há vingança maior do que colocar um homem no papel da mulher, como fraco, violentado, com medo, encurralado. Clap, clap, Amy!




Um comentário:

  1. Acho que um bom termômetro, na minha opinião, é a quantidade de homens chateados com a personagem e usando aqueles xingamentos machistas com os quais já estamos acostumadas.
    Eu adorei o filme e também gostei do livro

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