segunda-feira, 6 de abril de 2015

o feminismo é para todas!

Dentro do feminismo ainda temos que lutar contra preconceitos. Tem feminista que não aceita mulher trans no movimento, porque ela não é mulher "de verdade". Tem feminista que acha que as pautas da mulher negra e da mulher branca são as mesmas. Tem muita feminista preconceituosa, expondo minas, silenciando quem deveria ser irmã de luta. Como um movimento assim pode libertar (todas) as mulheres?



Escrevo aqui como feminista branca de classe média. Ser mulher me faz sofrer opressão e preconceito, mas eu também tenho muitos privilégios. Eu não posso escrever aqui e sair falando sobre feminismo pra todo mundo se eu mesma não reconhecer aquilo que me diferencia de várias mulheres, aquilo que me coloca em uma posição privilegiada. Não posso achar que o meu sofrimento de mulher é o mesmo para todas. O gênero nos aproxima, mulher negra e eu, mas os estereótipos que me oprimem não são os mesmos que os dela. Enquanto o feminismo branco estava lutando pelo direito ao voto, as mulheres negras estavam lutando para serem reconhecidas como gente. Enquanto a patroa estava reclamando da opressão do marido, a empregada negra estava lavando as roupas da família patriarcal, branca, de classe média. Enquanto as mulheres brancas lutam para não serem vistas como frágeis, as mulheres negras não querem ser vistas como pedaços de carne da "cor do pecado". A questão não é criar uma hierarquia de sofrimentos, mas não apagar as questões de raça no meio da discussão de gênero.

Gênero, sexualidade, classe social, raça, tudo isso está entrelaçado. Toda vez que o feminismo toma qualquer atitude racista, ele perde parte da sua força de reivindicação. O feminismo existe pra quem? Que mulher é essa que é defendida? A branca, classe média, com curso superior? Essas divisões não podem existir em um movimento que luta por igualdade.



Enquanto apontamos o privilégio alheio é difícil nos voltarmos para o nosso próprio. Mas mulheres brancas NUNCA podem deslegitimar o sofrimento de uma mulher negra. Eu não sei o que é ser mulher negra, posso ler sobre, posso ouvir, posso conversar, mas ainda assim não vou poder opinar, pois sobre isso eu não tenho legitimação. Se toda vez que uma mulher negra lançar uma pauta no feminismo e apontar racismo eu discordar dela, quer dizer que eu sou preconceituosa, que eu não enxergo para além dos meus próprios problemas. Junto com "iuzomi", também tem "iazbranca", "iazrica". Toda vez que uma mulher branca sofre por receber um salário mais baixo que um homem branco, uma mulher negra sofre por nem conseguir o mesmo emprego que a branca. O feminismo negro é a minoria dentro da minoria.

Não deveria ter que existir tipos de feminismo, mas é só ler um pouco que a gente vê que atualmente as mulheres negras estão finalmente sendo um pouquinho ouvidas dentro da luta feminista, por isso ainda a presença de binarismo e lutas que às vezes parecem opostas.



Como uma feminista branca como eu pode fazer para não silenciar uma mulher negra? Ficar quietinha e ouvir já é uma boa. Assumir meus privilégios e pensar sobre onde eles me levam e o que eles me permitem fazer também ajuda. Dar espaço no meu blog para uma mulher negra escrever sobre suas opressões diárias. Pensar sobre todas as muitas mulheres que existem por aí e sobre os diferentes graus de patriarcado que as atingem.

O filme "Histórias Cruzadas" nos faz pensar um pouco sobre a opressão da mulher branca diante da negra. No filme, vemos claramente a posição que cada uma ocupa na sociedade e os sofrimentos que vêm junto com classe e gênero. O racismo da mulher branca é fruto do patriarcado. A mulher dona da Casa Grande sofre? Sofre, sim. Mas a negra da senzala tem um outro sofrimento que a branca nem conhece. 



O feminismo é para todas. TODAS. Branca, negra, índia, gorda, magra, rica, pobre, solteira, casada, mãe, dona de casa, empregada, funkeira, prostituta, moradora de rua, imigrante, empresária, mochileira, católica, hippie. 

Mulher, volte o olhar pra ti e reconheça teus próprios privilégios. Não deslegitima uma dor que tu não conhece. Não aja a partir de princípios patriarcais. Peça desculpa. Reconheça teu racismo. Não silencia as outras mulheres. Sororidade acima de tudo!


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